terça-feira, 20 de julho de 2010

Café-com-leite (1° capítulo)

Já passava das onze da manhã quando Soraya Benites saía de seu apartamento rumo à faculdade. Mal sabia ela que aquele dia mudaria tudo. Não passava por sua cabeça conhecer naquele dia o homem que decidiria o futuro de sua profissão e, de certa forma, grande parte de suas escolhas na vida.
Assim que chegou à universidade, seguiu com pressa para o prédio da escola médica e passou como um jato em direção ao laboratório de anatomia. Apesar de seu atraso de cinco minutos, ela não havia perdido nada. Naquele dia a aula propriamente dita não seria dada, e sim uma palestra seria ministrada. Um dos maiores especialistas do país em medicina legal e forense acabara de chegar na faculdade e todos estavam muito ansiosos para ouvir o que ele tinha a dizer. Então, Sorinha, que já havia cruzado metade da universidade, teve de fazer o caminho reverso e seguir para o extremo norte da instituição, onde existiam três grandes auditórios. O maior deles já estava praticamente lotado, não apenas por estudantes de medicina, como também de direito e antropologia, além de professores de todas as matérias dos cursos de saúde.
- Sorinha, chega aqui!
A amiga mais próxima de Soraya na faculdade já estava acostumada com a amnésia seletiva da amiga, por isso havia guardado um lugar na terceira fileira com mais três amigas. Sorinha correu e quase tropeçou ao passar pelo mar de pernas entre a cadeira onde sentaria e a porta do auditório.
- Aninha! Obrigada, amiga!
- Ah, não se preocupe com isso. Sei que você queria ver essa palestra. Nunca vi ninguém gostar mais de cadáver que você.
- (risos) Pois é! Tomara que ele convença o reitor a conservar os cadáveres daqui sem formol! Se não fosse o formol, eu podia morar no anatômico da EM tranquilamente...
- Tá, até parece! Ia comer o quê? Vísceras?
- Shiiiiiiiiiii. O doutor vai falar!
Duas horas depois, muitas informações assimiladas, um milhão anotadas, Sorinha já estava no ônibus pra casa. Hoje ela havia tido a epífise das epífeses. Poucas pessoas conseguem uma desse tipo, mas ela tinha certeza de que havia acontecido mesmo. Enfim sabia o que fazer com o resto de sua vida. Agora faltava só encontrar alguém para poder dividi-la.

Nenhum comentário:

Postar um comentário