segunda-feira, 12 de julho de 2010

(Fanfic) Alice no País das Maravilhas.


2º Capítulo.


Passaram-se alguns dias, o país das Maravilhas estava cada vez mais vazio. Suas noites eram sem vida, sonhos comuns, como o de todas as outras crianças. Pesadelos, na maior parte das vezes.

Confio em papai o suficiente, ele não roubaria meus personagens. Mamãe? Hum... Como a Rainha de Copas a descreveu, não seria muito provável. Talvez isso seja automático, eles andam sumindo porque já é hora de não pensar mais neles. Algo normal.

Era o que ela acreditava.

Dias passaram rápido, e Alice precisou ocupar seus pensamentos com a festa de aniversário, e após isso, um fato que ela não esperava: a morte de seu pai. Alice desorientada entrou em um profundo caos emocional, sua mãe não ajudava muito. Sempre calada, aderiu o luto como uniforme, queimando todas as roupas de cor, passou a usar o preto dia e noite, sol ou chuva.

Uma tia distante orientou sua mãe a levá-la em algum consultório próximo, para que o psicólogo a ajudasse a romper essa barreira e seguir sua vida normalmente.

- Olá Alice, como se sente?

O silêncio invadiu o espaço entre Alice e o doutor de terno azul marinho, calça cinza e cabelos grisalhos.

- Tudo bem, confie em mim. Apenas quero te ajudar. Todos entendemos que perder um pai é algo muito difícil. – Ela o encarou, e ele continuou – Mas para que eu te ajude, e tudo o que você está sentindo passe, eu quero que você fale. Como era a relação de vocês dois?

Continuou em silêncio, esperando até que ele dissesse algo que realmente a motivasse.

- Você quer falar sobre o País das Maravilhas então, mocinha?

“Maldito.” Alice pensou sozinha.

O incansável psicólogo continuou:

- O que as pessoas de lá faziam? Como era?

- A Rainha de Copas mandaria cortar sua cabeça caso você aparecesse lá, seria divertido.

Alice o observou escrever algo em seu pequeno bloco de papel. “Agressividade”.

- Ela já cortou a cabeça de alguém que tenha ido por lá?

- Dos intrusos que incomodam, sempre. Posso ir? – Antes que o homem a respondesse, ela levantou e foi em direção a porta. – Vamos mamãe, acabou.

- Tão rápido querida?

- Sim.

Deram as costas e prosseguiram, antes que o doutor saísse da sala e a chamasse novamente.

Em seu quarto, afogou-se novamente em suas lágrimas agora tão amigas e presentes.

Fechou os olhos, e como de rotina agora, nada aconteceu.

Os meses a fizeram voltar no consultório, mas nada foi revelado. Passaram dias, e passaram anos. Nada de Coelho, Rainhas, Chapeleiro Maluco, Lebre, Gato e outros personagens. Só o avermelhado de suas pálpebras, todos os dias. E a escuridão, quando era noite.

***

Querido papai, não sei onde você está, mas eu queria que continuasse vivo em meus sonhos. Você se foi, e acredito que meus amigos tenham ido junto com você, o País das Maravilhas se acabou, e hoje completam cinco anos que você partiu. Minha mãe diz que me tornei uma bela jovem. Ah, e por falar nela, bem... Não mudou muita coisa, e se mudou, garanto que foi pra pior. Só sai de casa para ir às missas, e nada mais. Nada de chás à tarde, nem aos sábados, como eram sagrados! Já a encontrei chorando no banheiro, no quarto, na sala, na varanda, e sempre com uma foto sua nas mãos. Ela sente bastante a sua falta, assim como eu. Gostaria que você estivesse aqui.

E essa era a quinta carta que Alice escrevia, e acompanhava sua mãe ao cemitério da cidade no dia em que completava mais um ano da morte de seu pai.

- Tem algo que preciso falar com você, Alice.

- Diga mamãe.

Alice se acomodou no sofá da sala, bem ao lado da sua mãe e observou sua expressão séria e decidida.

- Estive pensando muito, e cheguei a conclusão de que você precisa se afastar de mim. Meu estado emocional não é bom, por isso vou me mudar para uma clinica onde pessoas com o mesmo problema que eu vivem.

- Quero ir com você.

- Não, querida, você não pode. Alice, você tem uma vida toda pela frente, projetos a concluir e sonhos a realizar. A minha vida está perto do fim, estarei feliz com a sua felicidade. – Com os olhos lacrimejando levemente, ela concluiu – Você irá para a casa de uma antiga amiga, que tem outra filha de mais ou menos a sua idade, onde será recebida com muito carinho, irei arcar com suas despesas, e nos veremos em todos os seus aniversários.

- Não vou me adaptar.

- Não existem outras opções. Vá arrumar as suas coisas, partiremos na semana que vem. Quanto a essa casa... Estará pronta para te receber, caso você queira voltar quando for maior de idade.

Sem pensar, sem contestar, sem sugerir outras escolhas, Alice saiu. Decidida a definitivamente não pensar, para não chorar e se magoar mais.

Ao longo dos dias, as pilhas com as caixas foram aumentando na sala, e assim, no dia da partida, sua mãe lhe deu um beijo na testa, e com lágrimas por todo o rosto disse:

- Quero que seja feliz, não deixe de sonhar.

Sem falar nada, Alice foi de encontro ao carro que a levaria para seu novo lar.

Sem choro.

Sem pensamentos.

Sem lembranças.

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